sexta-feira, maio 06, 2005

Seria somente um escandalozinho à toa se Conhaque não fizesse todo aquele alarde e chamasse toda a vizinhança e até a polícia porque parecia um agonizante ou um ou mais cadáveres aquela coisa branca que agora estava imóvel no meio do capim do terreno baldio vizinho à casa do Delegado Rubem que posa de direito e honesto e bota a maior moral do mundo mas todo mundo sabe que não existe homem sem mancha ou sem pecado nesta vida e Conhaque mesmo sendo nome de bebida já dá uma pista do que tanto bebe e bebe um pouco mais da sua cota e não gosta quando o Delegado Rubem que apenas chama-se delegado mas nunca viu-se num papel o seu nome e reclama e chama a atenção do Conhaque na vista de toda a vizinhança porque Conhaque que mora três casas depois da sua passa todo fim de tarde meio mamado e turbinado porque toma lá uns conhaques que lhe dão o nome na venda de Seu Zé Lombriga e assovia alto demais vírgula debaixo da janela do homem.

Ritinha também seria somente a princesinha de sempre se o pai delegado não fosse tão metido e mais direito do que todo mundo e ficasse deitando regra pra todo lado e falando mal dos outros só porque se fazem coisas que ele tinha vontade mas só podia fazer escondido e não tivesse recebido em sua casa naquele dia para passar a noite uma irmã que veio de longe e um sobrinho por quem a Ritinha tinha se engraçado e não houvesse aquela obrigação de sair à noite para assistir a missa e a novena e a menina não se desculpasse pela cólica para ficar sozinha em casa e o menino não saísse no meio da missa alegando um cansaço que não sentia vírgula só de malandro.

O Delegado Rubem continuaria sendo lá seu delegado se não houvesse a coisa se encaminhado para aquele lado tendo o menino chegado em casa e a Ritinha que não sentia nenhuma cólica não tivesse lhe beijado e se ficassem só nos beijos e não tivessem passado da sala para o quarto e enfiado as mãos em tantos cantos e se as carícias tivessem se interrompido ou o menino se calado e não estivesse arfando e dizendo te amo e chamando a Ritinha para se deitar com ele naquele terreno baldio e escuro que ficava ao lado porque a qualquer momento podiam chegar e seria melhor a desculpa de ter saído para tomar sorvete do que o flagrante dos dois pelados vírgula e enroscados.

Teria o Conhaque passado direto se não tivesse se lembrado no bar de Zé Lombriga da chatice do delegado e parado com os conhaques antes que a ponta do nariz lhe sumisse que é como fica quando está mamado e não resolvesse ir para casa naquela hora ainda meio controlado e não andasse o referido Conhaque muito atento a ver tudo por onde passasse porque no escuro dera para ter medo que lhe aparecesse o endiabrado e não fosse por isso nem teria olhado para aquele escuro onde no começo achou que era reflexo da luz do poste mas não havia poste e lá no meio do capim brilhava um brilho estranho e seu coração disparou num instante talvez ele passasse se a mancha não se mexesse ou talvez não se aproximasse da cerca de arame ele Conhaque que apesar do medo e da pouca luz era capaz de ver no escuro e distinguir a ponta do rabo de um quati do de uma raposa num relance e que não tendo tomado tanto conhaque raciocinava tão exatamente quanto uma memória vírgula de elefante.

Teria até mesmo reconhecendo a cena deixado passar o já dito Conhaque se não enxergasse naquela cena a chance de esculhambar com a direitice do delegado Rubem e então Conhaque levantou o dedo e a voz e gritou acuda alguém que lá no meio alguém se contorce e fez a cara de tanto espanto e pulou de tanta ansiedade que juntou gente mas de tanta gente não tinha um só que se aproximasse e quando Conhaque olhou e certificou-se de qual era o lance ele próprio enfiou-se entre dois arames e aproximou-se sem deixar de gritar socorro acudam alguém aqui está que quase morre e umas pessoas já se adiantavam para não perder a chance quando a princesa nua e branca como a neve levantou-se e disse vírgula caralho vírgula é a ritinha fia do delegado rubem vírgula vai chamar a cidade toda para assistir é virgula e interrogação seu filho da puta!