quarta-feira, maio 04, 2005

Não me trouxesse o café na cama, oras! O meu acordar é um ritual mutante e surpreendente, que às vezes permite - ou até pede - uma coadjuvante. Não era o caso, concordo... Também, acordar com o telefone tocando é de uma estupidez desconcertante; o corpo treme, a mente, ainda em repouso, se confunde e a alma parece apressar-se para reencarnar a tempo, antes que a porta da matéria se feche. E também não precisava ficar sentada na ponta da cama, com aquele sorriso inocente irradiando por toda a face, dos olhos brilhantes às maçãs salientes, da boca pequena ao queixo delicado, e ainda tinha aquele colo que arfava sobre a bandeja enquanto ela escutava a conversa, distraidamente. Era, ainda mais, um assunto reles, sem importância. Toda a minha contrariedade naquele momento talvez não enchesse uma xícara, mas ela estava ali, olhando-me com o olhar de quem venera mas que pareceu-me apenas o olhar de uma pequena vaca, e o uniforme alvo e cheiroso que usava era abotoado na frente. Veja só, eu ainda dormia, praticamente. Nem me lembro do que aconteceu no meu último sonho, mas costumo acordar com aquela excitação matutina tão comum aos homens. E os seios que eu entrevia por entre os botões, aqueles montes doces de sedução, me pareceram tão durinhos!

Minha namorada apareceu no meio da tarde. Contou-me um sonho belo e um tanto triste. Estava ela num lugar estranho, uma sala enorme com fileiras de quatro poltronas e assistia a uma palestra. Um homem entregou-lhe alguma coisa que pôs na sua palma da mão e pediu-lhe que, por enquanto, não olhasse. Ela manteve a mão fechada o tempo todo, sem a menor idéia do que fosse. Ao sair daquele lugar estranho viu-se num amplo jardim gramado, onde as pessoas passeavam. Um anjo apareceu-lhe e parecia-se com o seu pai; com gestos revelou-lhe um segredo, sobre não gostar de alguém. Quando ficou novamente só, lembrou-se então de abrir a mão. Havia lá uma pequena flor, cuja haste ligava-se a um pedaço de galho parecido com um tronco de bambu. Aconteceu, então, do pedaço de tronco soltar-se da haste e cair da sua mão. Nesse momento, quando ela preparava-se para procurá-lo na grama aos seus pés, apareceu outro anjo que, impedindo-lhe o gesto, disse: "Não te preocupes com o que perdestes... Pois se tens o amor!". Era uma flor de cinco pétalas e - ela disse - estava um pouco amassada e tinha a cor do meu coração...

Quando fui dormir senti-me o mais feliz dos homens porque essa moça me ama. E o mais miserável, por causa da outra.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Muito legal se vc ainda estiver ai manda outra historia que descrevam nossos sentimentos pelos dias e as duvidas que ninguem nos responde

2:04 AM  

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